Na
PUC, produtivismo faz mais uma vítima
Produtivismo: Neoliberalismo na Academia
Companheir@s,
O
PUCViva da próxima segunda-feira (anexo) traz a mobilização contra o
"descredenciamento" de professores altamente qualificados da PUCSP
por meio de de um ATO da PRÓ-REITORA da PÓS-GRADUAÇÅO.
Seguem o Manifesto da
APROPUC, depoimentos, manifestações de professores/as e (ex) estudantes de
apoio e solidariedade ao Professor Miguel Chaia, abaixo-assinados pela
Revogação do Ato da Pró- reitora de Pós e abertura imediata de um amplo
processo de discussão para definição de recredenciamento a partir de critérios
coletivamente construídos que de fato avaliem a vida acadêmica. @s
representantes de entidades, intelectuais, (ex) estudantes, e tod@s que queiram
se manifestar em solidariedade aos professores(as) , pela revogação imediata do
Ato enviar email para
e
Abraços
Bia Abramides
Diretoria da APROPUC
twitter.com/apropuc
http://www.apropucsp.org.br
http://www.facebook.com/apropuc
Manifesto dos economistas pelo desenvolvimento e pela inclusão social
Desde o dia 26 de outubro, os meios de comunicação propagam quase exclusivamente a opinião que a austeridade fiscal e monetária é a única via para o Brasil
Manifesto dos Economistas
Desenvolvimento e inclusão social
A campanha eleitoral robusteceu a democracia brasileira através do debate franco sobre os rumos da Nação. Dois projetos disputaram o segundo turno da eleição presidencial. Venceu a proposta que uniu partidos e movimentos sociais favoráveis ao desenvolvimento econômico com redistribuição de renda e inclusão social. A maioria da população brasileira rejeitou o retrocesso às políticas que afetam negativamente a vida dos trabalhadores e seus direitos sociais.
É de se esperar que o pluralismo de opiniões fortaleça nossa democracia depois da pugna eleitoral. Desde 26 de outubro, contudo, a difusão de ideias deu a impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e nas propostas para os graves problemas da sociedade e da economia brasileira. Sem o contraponto propiciado pela campanha e pelo horário eleitoral gratuito, os meios de comunicação propagaram quase exclusivamente a opinião que a austeridade fiscal e monetária é a única via para resolver nossos problemas.
Isto vai na contramão da opinião de economistas de diferentes matizes no Brasil, mas reverbera o jogral dos porta-vozes do mercado financeiro. Estes defendem solucionar a desaceleração com a “credibilidade” da adesão do governo à austeridade fiscal e monetária, exigindo juros mais altos e maior destinação de impostos para o pagamento da dívida pública, ao invés de devolvê-los na forma de transferências sociais, serviços e investimentos públicos.
Subscrevemos que este tipo de austeridade é inócuo para retomar o crescimento e para combater a inflação em uma economia que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de sobreaquecimento. O reforço da austeridade fiscal e monetária deprimiria o consumo das famílias e os investimentos privados, levando a um círculo vicioso de desaceleração ou mesmo queda na arrecadação tributária, menor crescimento econômico e maior carga da dívida pública líquida na renda nacional.
Entendemos que é fundamental preservar a estabilidade da moeda. Também somos favoráveis à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de recursos tributários: este tipo de austeridade, sim, denota espírito público e será sempre desejável. Rejeitamos, porém, o discurso dos porta-vozes do mercado financeiro que chama de “inflacionário” o gasto social e o investimento público em qualquer fase do ciclo econômico.
Tampouco compreendemos o argumento que associa a inflação ao gasto público representado por desonerações que reduzem custos tributários e subsídios creditícios que reduzem custos financeiros. A inflação, aliás, manteve-se dentro da meta no governo Dilma Rousseff a despeito de notáveis choques de custos como a correção cambial, o encarecimento da energia elétrica e a inflação de commodities no mercado internacional.
A austeridade agravou a recessão, o desemprego, a desigualdade e o problema fiscal nos países desenvolvidos mesmo tendo sido acompanhada por juros reais baixíssimos e desvalorização cambial. No Brasil, a apreciação cambial estimulada por juros reais altos aumenta o risco de recessão, ao acentuar a avalanche de importações que contribui para nosso baixo crescimento.
É essencial manter taxas de juros reais em níveis baixos e anunciar publicamente um regime fiscal comprometido com a retomada do crescimento, adiando iniciativas contracionistas, se necessárias, para quando a economia voltar a crescer. A atual proporção da dívida pública líquida na renda nacional não é preocupante em qualquer comparação internacional.
O que nos preocupa é a possibilidade de recessão e a carência de bens públicos e infraestrutura social reclamada pela população brasileira. Atendê-la não é apenas um compromisso político em nome da inclusão social, é também uma fronteira de desenvolvimento, estímulo ao crescimento da economia e em seguida da própria arrecadação tributária.
Esta opinião divergente expressa por parte importante dos economistas brasileiros não pode ser silenciada pela defesa acrítica da austeridade, como se o mantra que a louva representasse um pensamento único, técnico, neutro e competente. Um dos vocalizadores desse mantra chegou a afirmar que um segundo governo Dilma Rousseff só seria levado a caminhar em direção à austeridade sob pressão substancial do mercado, o que chamou de "pragmatismo sob coação". Esperamos contribuir para que os meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela austeridade sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do debate econômico em nossa democracia.
Maria da Conceição Tavares (UFRJ)
Luiz Gonzaga Belluzzo (UNICAMP e FACAMP)
Ricardo Bielschowsky (UFRJ)
Marcio Pochmann (UNICAMP)
Pedro Paulo Zahluth Bastos (UNICAMP)
Rosa Maria Marques (PUC-SP)
Alfredo Saad-Filho (SOAS - Universidade de Londres)
João Sicsú (UFRJ)
Maria de Lourdes Mollo (UNB)
Antonio Prado (Secretário Adjunto – CEPAL)
Vanessa Petrelli Corrêa (UFU)
Carlos Pinkusfeld Bastos (UFRJ)
Alexandre de Freitas Barbosa (USP)
Lena Lavinas (UFRJ)
Luiz Fernando de Paula (UERJ)
Hildete Pereira Melo (UFF)
Niemeyer Almeida Filho (UFU)
Frederico Gonzaga Jayme Jr. (UFMG)
Jorge Mattoso (UNICAMP)
Carlos Frederico Leão Rocha (UFRJ)
Rubens Sawaya (PUC-SP)
Fernando Mattos (UFF)
Pedro Rossi (UNICAMP)
Jennifer Hermann (UFRJ)
André Biancarelli (UNICAMP)
Bruno De Conti (UNICAMP)
Julia Braga (UFF)
Ricardo Summa (UFRJ)
Carlos Pinkusfeld Bastos (UFRJ)
Alexandre de Freitas Barbosa (USP)
Lena Lavinas (UFRJ)
Luiz Fernando de Paula (UERJ)
Hildete Pereira Melo (UFF)
Niemeyer Almeida Filho (UFU)
Frederico Gonzaga Jayme Jr. (UFMG)
Jorge Mattoso (UNICAMP)
Carlos Frederico Leão Rocha (UFRJ)
Rubens Sawaya (PUC-SP)
Fernando Mattos (UFF)
Pedro Rossi (UNICAMP)
Jennifer Hermann (UFRJ)
André Biancarelli (UNICAMP)
Bruno De Conti (UNICAMP)
Julia Braga (UFF)
Ricardo Summa (UFRJ)
Frederico Katz (UFPE)
Cristina Fróes Borja Reis (UFABC)
Luiz Carlos Delorme Prado (UFRJ)
Fernando Sarti (UNICAMP)
Ramon Garcia Fernandez (UFABC)
José Porfiro da Silva (UFAC)
José Eduardo Roselino (UFSCAR)
Eduardo Fagnani (UNICAMP)
Danilo Araújo Fernandes (UFPA)
Ana Rosa Ribeiro Mendonça (UNICAMP)
Antonio Prado (Secretário Adjunto – CEPAL)
Gilberto Libanio (UFMG)
José Rubens Damas Garlipp (UFU)
Angela Ganem (UFRJ)
Clésio Lourenço Xavier (UFU)
Alcides Goularti Filho (UNESC)
Ana Paula Sobreira Bezerra (UFPE/CAA)
Cláudia Alessandra Tessari (UNIFESP)
Luiz Augusto Estrella Faria (UFRGS)
Gustavo Figueiredo Campolina Diniz (UFMG)
Novas subscrições devem ser feitas neste endereço.
O capital no século 21. As novas ideias do
economista Thomas Piketty
Thomas Piketty: r > g
A economia
global estará se acelerando em direção a um futuro que se mostra incompatível
com a democracia? Nesta palestra provocadora e instigante, o economista francês
Thomas Piketty oferece um novo contexto para uma melhor compreensão de seu
livro “O capital no século 21”, best-seller em 2014.
Vídeo: TED – Ideas Worth
Spreading
Tradução: Andrea Mussap. Revisão: Mário Curiki
O economista francês Thomas Piketty causou sensação
no início de 2014, através de seu livro com uma fórmula simples e brutal para
explicar a desigualdade econômica: r > g (o que significa que o retorno
sobre o capital é geralmente maior do que o crescimento econômico). Aqui, ele
fala com base em um conjunto de dados em massa que o levou a concluir que a
desigualdade econômica não é nova, mas está ficando pior, com possíveis
impactos radicais.
Thomas Piketty é economista e professor na Escola
de Economia de Paris. Seu livro “O capital no século 21”, publicado no
início deste ano, teve enorme sucesso em todo o mundo.
Tradução integral da conferência de Thomas Piketty:
É muito bom estar aqui hoje.
Eu tenho trabalhado na história da distribuição
de renda e riqueza nos últimos 15 anos, e uma das lições
interessantes que vem dessa evidência histórica de fato é que, no
longo prazo, há uma tendência de que a taxa de retorno do
capital exceda a taxa de crescimento da economia, e isso tende a
levar a uma alta concentração da riqueza. Não uma concentração
infinita, mas quanto maior a diferença entre r e g, maior o nível de
desigualdade de riqueza para onde a sociedade tende a convergir.
Portanto, esta é uma força fundamental de que
falarei hoje, mas deixem-me dizer logo que esta não é a única força
importante na dinâmica da distribuição de renda e riqueza, e há
muitas outras forças que desempenham um papel importante na dinâmica de
longo prazo da distribuição de renda e riqueza.Também há muitos
dados que ainda precisam ser coletados. Hoje sabemos um pouco
mais do que sabíamos, mas ainda é muito pouco, e certamente há muitos
processos diferentes - econômicos, sociais, políticos - que precisam
ser mais estudados. Então eu vou focar nesta força simples, mas não
significa que outras forças importantes não existam.
A maioria dos dados que apresentarei vem dessa
base de dados disponível online: a Base de Dados das Maiores
Rendas. Esta é a maior base histórica existente sobre a
desigualdade, e ela vem do esforço de mais de 30 estudiosos de várias
dezenas de países. Deixem-me mostrar-lhes alguns fatos desse banco de
dados, e depois retornaremos ao r maior do que g.
O fato número um é que tem havido uma grande
inversão na ordem da desigualdade de renda entre os Estados Unidos e a
Europa ao longo do século passado. Em 1900, 1910, a desigualdade de
renda era realmente bem maior na Europa do que nos Estados
Unidos, enquanto hoje, é muito maior nos Estados Unidos. Então,
deixe-me ser muito claro: A principal explicação para isso não é r maior
do que g. Tem mais a ver com a mudança de oferta e demanda por
competências, a corrida entre a educação e tecnologia, globalização,
provavelmente um acesso mais desigual ao aprendizado nos EUA, onde
você tem ótimas universidades mas onde a base do sistema de
ensino não é tão boa, uma grande desigualdade no acesso às
competências e também um aumento sem precedentes do salário de
gerentes nos Estados Unidos, que é difícil de explicar apenas com base na
educação. Tem mais coisa acontecendo aqui, mas não falarei muito
sobre isso hoje porque quero focar a desigualdade de riqueza.
Deixem-me mostrar-lhes um indicador muito
simples sobre a parte da desigualdade de renda. Esta é a parte do
rendimento total indo para os 10% no topo. Vocês podem ver que um
século atrás estava entre 45 e 50% na Europa e um pouco acima de 40%
nos EUA, então havia mais desigualdade na Europa. Então houve uma queda
acentuada durante a primeira metade do século 20, e na última década,
vocês podem ver que nos EUA ficou mais desigual do que a Europa, e
este é o primeiro fato que acabo de falar. O segundo é mais sobre a
desigualdade de riqueza, e aqui o fato central é que a desigualdade de
riqueza é sempre muito maior do que a desigualdade de renda, e também
que a desigualdade de riqueza, embora também tenha aumentado nas últimas
décadas, ainda é menos radical hoje do que era há um
século, embora a quantidade total de riqueza em relação à renda se
recuperou dos grandes choques da Primeira Guerra Mundial, da Grande
Depressão, da Segunda Guerra Mundial.
Então, deixem-me mostrar-lhes dois
gráficos que ilustram os fatos número dois e três. Primeiro, se
olharem o nível de desigualdade de riqueza, esta é a parcela da riqueza
total indo para os 10% maiores detentores da riqueza, dá para ver o
mesmo tipo de inversão entre os EUA e a Europa, que tínhamos antes de
desigualdade de renda. A concentração de riqueza era maior na Europa
do que nos EUA há um século, e agora é o oposto. Mas também dá para
ver duas coisas: Primeiro, o nível geral de desigualdade de riqueza é
sempre maior que a desigualdade de renda. Então lembrem-se, para a
desigualdade de renda, a parcela que ia para os 10% no topo era entre
30 e 50% da renda total,enquanto que para a riqueza, a participação é
sempre entre 60 e 90%. Esse é o fato número um, e é muito
importante para o que segue. Concentração de riqueza é sempre bem
maior do que concentração de renda.
Fato número dois é que o aumento da
desigualdade de riqueza nas últimas décadas ainda não é suficiente para
nos levar de volta a 1910. Assim, a grande diferença hoje, a
desigualdade de riqueza ainda é grande, com 60, 70% da riqueza total para
os 10 mais ricos, mas a boa notícia é que isso é melhor do que um século
atrás, onde você tinha 90% na Europa indo para os 10 mais
ricos. Então, hoje o que temos é o que eu chamo de meio 40%, pessoas
que não estão dentre os 10 mais e nem entre os 50 menos ricos, e o
que vocês podem ver como classe média rica, que possui de 20 a 30% da
riqueza total, riqueza nacional, considerando que costumavam ser pobres há
um século, quando basicamente não havia classe média rica. Esta é uma
mudança importante e é interessante ver que a desigualdade de
riqueza não se recuperou totalmente dos níveis anteriores à Primeira
Guerra Mundial, embora a quantidade total de riqueza foi
recuperada. Portanto, este é o valor total da riqueza em relação à
renda, e veja que particularmente na Europa estamos quase de volta ao
nível de antes da Primeira Guerra Mundial. Portanto, há realmente
duas partes diferentes da história aqui. Uma tem a ver com a
quantidade total de riquezas que acumulamos, e não há nada de mau com
isso, em acumular muita riqueza e particularmente, se é mais
difusa e menos concentrada. O que nós realmente queremos focar é
na evolução da desigualdade de riqueza, e o que vai acontecer no futuro. Como
podemos explicar o fato de que até a Primeira Guerra Mundial, a
desigualdade de riqueza era tão alta e, se algo estava subindo a níveis
tão elevados, como podemos pensar no futuro?
Deixem-me trazer algumas das explicações e
especulações sobre o futuro. Primeiro deixem-me dizer que acho que o
melhor modelo para explicar por que a riqueza é muito mais
concentrada do que a renda é um modelo dinâmico, dinástico onde os
indivíduos têm um longo horizonte e acumulam riqueza por várias
razões. Se as pessoas estivessem acumulando riqueza apenas por razões
de ciclo de vida, sabe, para poderem usufruir quando estivessem
velhas, o nível de desigualdade de riqueza estaria mais ou menos
alinhado com o nível de desigualdade de renda. Mas será muito difícil
de explicar porque se tem bem mais desigualdade de riqueza do que
desigualdade de renda pelo modelo de ciclo de vida então você precisa
de uma história onde as pessoas também se preocupam em acumular
riqueza por outros motivos. Normalmente, eles querem passar a riqueza
para a próxima geração, para seus filhos, ou às vezes querem acumular
riqueza por causa do prestígio, do poder que vem com a ela. Deve
haver outras razões para o acúmulo, além do ciclo de vida, para
explicar o que vemos nos dados. Em uma grande classe de modelos
dinâmicos de acúmulo de riqueza com tal motivo dinástico para a
acumulação de riqueza, teremos todos os tipos de choques aleatórios e
multiplicativos. Por exemplo, algumas famílias têm muitos filhos, de
modo que a riqueza será dividida. Algumas famílias têm menos
filhos. Também há choques de taxas de retorno. Certas famílias têm
grandes ganhos de capital. Algumas fizeram investimentos
ruins. Assim, sempre haverá alguma mobilidade no processo de
riqueza. Algumas pessoas subirão, outras descerão. O ponto importante
é que em tal modelo, para uma determinada variação de tais
choques, o equilíbrio da desigualdade de riqueza será uma função
vertiginosamente crescente de r menos g. E intuitivamente, a razão pela
qual a diferença entre a taxa de retorno da riqueza e a taxa
crescimento é importante, é que as desigualdades de riqueza
iniciais serão ampliadas em um ritmo mais rápido com um maior r menos
g. Tome um exemplo simples, com r igual a 5% e g igual a 1%, os
donos de riqueza só precisam reinvestir um quinto do seu rendimento de
capital para garantir que a sua riqueza suba tão rápido quanto o
tamanho da economia. Isso torna mais fácil construir e manter grandes
fortunas porque você pode consumir quatro quintos, assumindo imposto
zero e você pode reinvestir um quinto. É claro que algumas famílias
consumirão mais que isso, outras menos, por isso haverá alguma
mobilidade na distribuição, mas em média, eles só precisam reinvestir um
quinto, e isso sustenta a alta desigualdade de riqueza.
Vocês não devem se surpreender com a afirmação
de que r pode ser maior do que g para sempre, pois foi isso o que
aconteceu na maior parte da história da humanidade. E isso foi muito
evidente para todos pelo fato de que o crescimento estava perto de
0% na maior parte da história humana. O crescimento era talvez 0,1;
0,2; 0,3%, mas o crescimento da população e da produção per capita
era lento, enquanto a taxa de retorno do capital é claro, não era
0%. Era para bens de terra, que eram a forma tradicional de ativos
nas sociedades pré-industriais, era tipicamente 5%. Qualquer leitor
de Jane Austen sabe disso. Se você quiser uma renda anual de mil
libras, você deve ter um valor de capital de 20 mil libras, de modo
que 5% de 20 mil é mil. E de certa forma, este era o próprio
fundamento da sociedade, porque r maior do que g foi o que permitiu
detentores de riqueza e de ativos viverem as custas de seus rendimentos de
capital e fazerem outra coisa na vida além de apenas se preocuparem
com a sobrevivência.
Agora, uma conclusão importante da minha
pesquisa histórica é que o crescimento industrial moderno não
alterou este fato básico, tanto quanto se poderia esperar. É claro
que a taxa de crescimento após a Revolução Industrial aumentou, tipicamente
entre zero e 1 a 2%, mas ao mesmo tempo, a taxa de retorno do capital
também cresceu de modo que a diferença entre os dois realmente não
mudou.Durante o século 20 houve uma combinação única de
eventos. Primeiro, uma taxa de retorno muito baixa devido aos choques
das guerras de 1914 e 1945, destruição da riqueza, inflação, falência
durante a Grande Depressão, e tudo isso reduziu a taxa de retorno
privada de riqueza para níveis anormalmente baixos entre 1914 e
1945. E depois, no período pós-guerra, houve um elevada taxa de
crescimento incomum em parte devido à reconstrução. Na Alemanha,
França, Japão, a taxa de crescimento era de 5% entre 1950 e
1980 largamente devido à reconstrução, e também ao grande crescimento
demográfico, o efeito do grupo Baby Boom.
Aparentemente, isso não vai durar por muito
tempo, ao menos o crescimento populacional deve diminuir no futuro, e
as melhores projeções que temos é que o crescimento a longo prazo
será próximo a 1 ou 2% em vez de 4 ou 5%. Então, se você for
ver, estas são as melhores estimativas que temos de crescimento do
PIB mundial e da taxa de retorno de capital, taxas médias de retorno
sobre o capital, dá para ver na maior parte da história da
humanidade, que a taxa de crescimento era baixa, bem menor do que a
taxa de retorno, e então, durante o século 20, dá-se o real
crescimento da população, muito elevado no período pós-guerra e o
processo de reconstrução que trouxe crescimento a uma lacuna menor
com a taxa de retorno.
Aqui eu uso as projeções de população das Nações
Unidas, então é claro que eles são incertos. Talvez no futuro, todos
nós começaremos a ter um monte de filhos, e as taxas de crescimento
serão maiores, mas por enquanto essas são as melhores projeções que
temos, e isso fará o crescimento global cair e a lacuna entre a
taxa de retorno subir.
Outro evento incomum durante o século
20 foi, como eu disse, a destruição, a tributação do capital, então
essa é a taxa de retorno pré-impostos. Essa é a taxa de retorno
pós-impostos, e pós destruição, e isto é o que deixou a taxa
média de retorno pós impostos, pós destruição, abaixo da taxa de crescimento
por um longo tempo. Mas sem a destruição, sem a tributação, isso não
teria acontecido.Então deixem-me dizer que o equilíbrio entre o retorno
sobre o capital e o crescimento depende de muitos fatores
diferentes que são muito difíceis de prever: tecnologia e
desenvolvimento de técnicas de capital intensivo. Neste momento, a
maioria dos setores de capital intensivo na economia são o imobiliário,
habitação, o setor de energia, mas poderia ser num futuro em que
temos muito mais robôs em vários setores e esta seria uma fatia
maior do total do capital social que é hoje. Bem, estamos muito longe
disso e no momento, o que está acontecendo no setor imobiliário, no
de energia, é mais importante para o capital social e o capital de
ações.
A outra questão importante são os efeitos de
escala na gestão de carteiras em conjunto com a complexidade
e desregulamentação financeira, que facilitam obter maiores taxas de
retorno de um portfólio grande, e isso parece ser particularmente
forte para bilionários, com grandes capitais. Só para dar um
exemplo, este é dos rankings dos bilionários da Forbes entre
1987-2013, e dá para ver que os maiores detentores de riqueza foram
subindo em seis, sete por cento ao ano em termos reais, acima da
inflação, ao passo que a renda média no mundo, a riqueza média no
mundo, só aumentou 2% ao ano. E vocês veem o mesmo nas grandes
universidades quanto maior sua posse inicial maior a taxa de retorno.
O que poderia ser feito? Primeiro, eu acho que
nós precisamos de mais transparência financeira.Sabemos muito pouco sobre
a dinâmica de riqueza global, então precisamos de cessão internacional das
informações bancárias. Precisamos de um registro global de ativos
financeiros, maior coordenação na tributação de riqueza, e até mesmo
tarifar a fortuna com uma pequena taxa será uma forma de produzir
informação para então, adaptarmos nossas políticas para o que quer
que observemos. E, até certo ponto, a luta contra os paraísos
fiscais e a cessão automática de informações nos empurra nessa
direção. Há outras formas de redistribuir a riqueza, que pode ser
tentador usar. Inflação: é mais fácil imprimir dinheiro a
escrever um código tributário, é tentador, mas você pode não saber o que
fazer com o dinheiro. Isso é um problema. Expropriação é muito
tentador. Se algumas pessoas ficaram muito ricas você as
expropria. Esse não é um modo muito eficiente de organizar a
regulação da dinâmica de riqueza.A guerra é uma forma ainda menos
eficiente, por isso eu prefiro a tributação progressiva, mas é claro,
a história - (Risos) - inventará suas melhores formas, e
provavelmente envolverá uma combinação de todos estes.
Obrigado.
Thomas
Piketty: Obrigado.
Bruno
Giussani: Thomas, quero te fazer umas perguntas, porque é impressionante
como você domina seus dados, é claro, mas, basicamente, o que você sugere
é que o crescente acúmulo de riqueza é uma tendência natural do
capitalismo, e se deixarmos isso à própria sorte pode ameaçar o
sistema em si. Então você diz que precisamos agir para implementar
políticas de redistribuição de riqueza, incluindo as que acabamos de
ver: tributação progressiva, etc. No contexto político
atual, quão realista isso é? Qual você acha que é a probabilidade de
elas serem implementadas?
Thomas
Piketty: Eu acho, se você olhar para o passado, a história da renda,
riqueza e tributação é cheia de surpresas. Então, eu não estou
terrivelmente impressionado com quem sabe com antecedência o que vai
ou não acontecer. Eu acho que há um século, muitas pessoas
diriam que a tributação progressiva nunca aconteceria e então
aconteceu. E mesmo há cinco anos, muitos diriam que o sigilo bancário
estaria conosco para sempre, na Suíça, que a Suíça era muito
poderosa para o resto do mundo, e então, de repente, bastou algumas
sanções dos EUA contra os bancos suíços para que a mudança
acontecesse, e estamos indo em direção a uma maior transparência
financeira. Então eu acho que não é tão difícil coordenar melhor
politicamente. Nós teremos um acordo com a metade do PIB mundial ao
redor da mesa, com os EUA e a União Europeia, se metade do PIB
mundial não é suficiente para fazer progressos na transparência
financeira e na taxa mínima sobre os lucros de empresas
multinacionais, o que será preciso? Eu acho que essas não são
dificuldades técnicas. Acho que podemos progredir se tivermos uma
abordagem mais pragmática a essas perguntas e se tivermos as sanções
adequadas sobre os que se beneficiam da opacidade financeira.
BG: Um
dos argumentos contra o seu ponto de vista é que a desigualdade
econômica não é apenas uma característica do capitalismo, mas um de seus
motores. Então, tomamos medidas para reduzir a desigualdade e também
reduzimos potencialmente o crescimento. O que você responde a isso?
TP: Sim,
eu acho que a desigualdade não é um problema por si só. Eu acho que a
desigualdade até certo ponto pode ser realmente útil à inovação e o
crescimento. O problema é que é uma questão de grau. Quando a
desigualdade fica muito extrema, ela se torna inútil ao crescimento e
pode até virar algo ruim pois tende a levar a uma alta perpetuação da
desigualdade ao longo do tempo e à baixa mobilidade. E, por exemplo,
o tipo de concentração de riqueza que tivemos no século 19 e
praticamente até a Primeira Guerra Mundial em todos os países
europeus foi, penso eu, inútil ao crescimento. Ela foi destruída por
uma combinação de acontecimentos trágicos e mudanças políticas, e
isso não impediu o crescimento de acontecer. E também, a extrema
desigualdade pode ser ruim para as nossas instituições
democráticas se cria um acesso muito desigual à voz política, e a
influência do dinheiro privado na política dos EUA, eu acho, é um
motivo de preocupação no momento. Por isso, não queremos voltar a esse
tipo de extremo, à desigualdade anterior à Primeira Guerra
Mundial. Ter uma parte decente da riqueza nacional para a classe
média não é ruim para o crescimento. Na verdade, é útil tanto por
equidade quanto eficiência.
BG: Eu
disse no início que seu livro foi criticado. Seus dados foram
criticados. Algumas de suas escolhas de dados foram criticadas. Você
foi acusado de escolher certos dados para construir seu estudo. O que você
responde a isso?
TP: Bem,
eu estou muito feliz por este livro estimular o debate. Isso é parte
de seu objetivo. A razão pela qual eu coloquei todos os dados
online com todo o cálculo detalhado é para que possamos ter um
debate aberto e transparente sobre isso. Eu respondi ponto a
ponto a cada preocupação. Deixe-me dizer que se eu fosse reescrever o
livro hoje, eu realmente concluiria que o aumento da desigualdade de
riqueza, particularmente nos Estados Unidos, é de fato maior do que
eu relato no livro. Há um estudo recente do Saez e do
Zucman mostrando, com os novos dados que eu não tinha na época do
livro, que a concentração de riqueza nos EUA aumentou ainda mais do
que eu relato. E haverá outros dados no futuro. Alguns irão em
direções diferentes. Quase toda semana nós disponibilizamos
on-line dados atuais na Base de Dados das Maiores Rendas Mundiais, e
continuaremos fazendo isso no futuro, em particular nos países
emergentes, e dou boas-vindas a todos que queiram contribuir com esse
processo de coleta de dados. Na verdade, eu certamente concordo
que não há transparência suficiente sobre a dinâmica de
riqueza, e uma boa forma de ter dados melhores seria tributar a
riqueza primeiro com uma taxa pequena, de modo que todos possamos
concordar sobre esta importante evolução e adaptar nossas políticas
ao que quer que observemos. A tributação é uma fonte de
conhecimento, isso é o que mais precisamos agora.
Thomas
Piketty: Merci beaucoup.
Fonte:
Mercados financeiros tremem perante ascensão do Podemos
Propostas como a da auditoria para renegociar a dívida pública e privada, defendidas pelo novo partido de esquerda espanhol, são motivo de inquietação.
Barclays, CNBC, The Wall Street Journal, Merrill Lynch, Credit Suisse, JPMorgan, todos estão de acordo: o Podemos representa um elemento “desestabilizador” que deve ser travado por forma a não pôr em causa os interesses dos mercados financeiros. Propostas como a da auditoria para renegociar a dívida pública e privada são motivo de “inquietação”.
Após o Barclays ter alertado para os efeitos nefastos do “forte crescimento” do partido Podemos e do fortalecimento da luta pela autodeterminação na Catalunha, e da CNBC ter feito eco do relatório do banco, assinalando que o Podemos é um fator “desestabilizador”, eis que o JPMorgan vem referir que aqueles que já investiram na dívida espanhola devem estar inquietos devido ao peso crescente que o partido está a atingir junto do eleitorado espanhol.
Os analistas do banco norte-americano, citados pelo Expansión, referem o fato de este "movimento radical estar a ganhar terreno continuamente", destacando que os investidores detentores de dívida espanhola podem estar "inquietos com as promessas [do Podemos], como a da auditoria para renegociar a dívida pública e privada". Neste contexto, os economistas do JPMorgan aconselham os investidores a apostarem na dívida irlandesa.
Por outro lado, o banco norte-americano também nomeia as consequências penalizadoras para a economia espanhola face a uma maior autonomia fiscal da Catalunha.
Também o Merrill Lynch, o Credit Suisse e o The Wall Street Journal já tinham acenado com os problemas políticos e econômicos que poderiam resultar de um resultado eleitoral favorável ao Podemos.
A Secretária geral do PP, María Dolores de Cospedal, deixou esta semana o aviso: o Podemos é “muito perigoso para o sistema, para a democracia, a liberdade de imprensa e tudo o que foi conquistado” no Estado Espanhol.
Fonte:
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