Coitadinho S/A deve R$ 18,7 bilhões à Receita Federal
Grande inauguração do
Choródromo dos Coitadinhos S/A
Com a presença de nossa candidata
Buá, buá, buá...
Intelectuais do mimimi
Por: Breno
Altman
A vitimização
marinista, incentivada por oráculos da academia e da mídia, não se mostra capaz
de deter os efeitos do confronto programático e a crescente polarização
eleitoral
Os principais sócios da estratégia de vitimização
da candidata Marina Silva são um punhado de intelectuais e jornalistas que,
aproveitando a emergência da alternativa salvacionista, encontraram na crítica
à radicalização política da campanha sua nova estratégia antipetista.
Cansados e derrotados depois de longo tempo
defendendo a República de Higienopolis, encarnada pelo PSDB, vislumbraram na
ex-senadora e sua biografia a via modernizante do velho programa neoconservador.
Infelizmente se juntam, aqui e acolá, vozes progressistas que imaginam a luta
política como passeio em um jardim florido e de grama aparada.
Esta opção renovada do bloco neoliberal, no
entanto, tem seu calcanhar de Aquiles no programa apresentado por Marina. Sua
origem pobre, lutadora e petista cai por terra quando confrontada com as
idéias, valores e medidas que vertebram seu projeto de governo e pais. Ela
simplesmente incorporou o programa tucano, batido pelas urnas por três vezes
consecutivas.
Não resta outro caminho para esse grupo de
pensadores, portanto, fora a denúncia de qualquer embate programático como
suposta agressão contra a candidata do PSB. O mimimi é o jeito no qual apostam
para despolitizar ao máximo a campanha e reduzi-la a um eventual confronto de
personalidades, entre a salvadora messiânica e a gerentona sem carisma.
Já é grande, no entanto, a chance das intenções
desta gente ruir como em eleições anteriores. Apesar das vacilações e
concessões do PT na disputa e na pedagogia político-ideológica ao longo dos
últimos doze anos, o fato é que os trabalhadores, os pobres da cidade e do
campo, conquistaram ampla consciência acerca de qual projeto defende seus
interesses de classe.
A vitimização marinista, incentivada por oráculos
da academia e da mídia, não se mostra capaz de deter os efeitos do confronto
programático e a crescente polarização eleitoral. Nesse cenário, as grandes
maiorias populares farão a opção, mesmo com alguns setores a contra-gosto, por
defender suas imensas conquistas desde 2003 e o lado que efetivamente as
representa.
O modelo de Marina é a via
Tony Blair
Por: Marcelo Zero(*)
Origem da mistura programática do PSB encontra-se
em Tony Blair, ministro britânico que trocou trabalhismo pela subordinação a
George W Bush
A primeira grande medida que Tony Blair adotou
quando chegou ao poder foi dar independência ao Bank of England, o banco
central inglês.
A medida não estava no programa de governo, mas
Blair a adotou assim mesmo. Era uma forma de demonstrar que o New Labour, por
ele representado, estava rompendo definitivamente com o “velho trabalhismo” e
com a “antiga socialdemocracia”.
Essa ruptura não era apresentada, contudo, como uma
adesão ao “thatcherismo” e à direita.
Na realidade, Blair se apresentava como uma espécie
de personificação da Terceira Via, teorizada principalmente por Anthony
Giddens, sociólogo britânico.
A Terceira Via, segundo Giddens e Blair, não era
nem de esquerda e nem de direita. Estava, na visão deles, “além da esquerda e
da direita”. Rompia com a socialdemocracia tradicional e com o velho
trabalhismo, mas também representava uma ruptura com o neoliberalismo. Era algo
profundamente novo, um “centralismo radical” que prometia, num grande esforço
modernizador, adaptar a economia e a sociedade britânicas aos “novos desafios
impostos pela globalização”, mantendo, no entanto, os valores permanentes da
justiça social.
Em economia, Blair dizia que a abordagem da
Terceira Via não era “nem o laissez faire, nem a interferência estatal”. Ao
“Estado necessário”, nem mínimo, nem máximo, caberia o simples papel de
sustentar o equilíbrio macroeconômico e promover a atividade empresarial,
particularmente as “indústrias do futuro baseadas no conhecimento”. No que
tange à esfera social, a Terceira Via faria revolução do Welfare State,
adaptando-o às novas necessidades da economia globalizada. Em vez de investir
em redes de proteção “excessivas”, era preciso dar “empregabilidade” às pessoas,
investindo em Educação e no empreendedorismo.
Com isso, asseguravam Blair e Giddens, a economia
britânica aumentaria muito a sua produtividade, beneficiando igualmente
empresários e trabalhadores.
No Brave New
World proposto pela Terceira Via, não havia mais conflitos de classes e nem
a vinculação orgânica da socialdemocracia e do trabalhismo aos sindicatos e aos
movimentos sociais. Não havia também alternativas à “economia de mercado
globalizada”; e a desigualdade passou a ser algo aceitável, desde que baseada
na “meritocracia”.
Completava esse novo mundo sem conflitos, livre das “velhas ideologias”, uma
preocupação com as questões ambientais, que haviam sido relegadas a um segundo
plano, segundo Giddens, tanto pela antiga socialdemocracia quanto pelo
neoliberalismo thatcherista.
Entretanto, o que se viu, na prática, foi a adesão
de Blair a todas as principais diretrizes políticas do thatcherismo. Seu
governo persistiu no desmonte do sindicalismo britânico, na “flexibilização” do
mercado de trabalho, na revisão de alguns direitos previdenciários, nas
privatizações e, sobretudo, na crescente desregulamentação do sistema
financeiro, já sob a gerência “independente” do Bank of England.
Assim, o New Labour saiu do colo trabalhista dos sindicatos britânicos para o colo financeiro da City londrina.
Os resultados não foram bons. O índice de Gini do Reino Unido que, no início do thatcherismo, era de 0,240, aumentou para 0, 340, um dos maiores crescimentos da desigualdade nos países desenvolvidos. Embora a maior parte desse aumento tenha se dado na era Thatcher, a Terceira Via de Blair não conseguiu revertê-lo, e até propiciou um novo incremento. Na realidade, foi durante o período Blair que aumentou mais a renda do 1% mais rico e, particularmente, do 0,1 % mais afluente, renda essa muito vinculada à desregulamentação financeira.
Ao longo do período do New Labour, os que fazem
parte do 0,1 % mais rico do Reino Unido aumentaram seus rendimentos 4 vezes
mais que 90% da população britânica. Hoje, apenas as cinco famílias mais ricas
do Reino Unido têm renda superior aos 20% mais pobres da população.
Além disso, houve “precarização” do mercado de
trabalho, ao invés da prometida “empregabilidade”. Afinal, a estrela do
crescimento econômico durante o New Labour foi o setor de serviços,
particularmente os serviços financeiros, com decréscimo das indústrias.
A recessão, que varreu do mapa político o New
Labour em 2010, com a derrota de Gordon Brown, sucessor de Blair, só fez piorar
esse quadro social. Hoje, 1 em cada 5 britânicos são pobres e, pela primeira
vez na história, a maior parte dos lares em condição de pobreza é habitada por
indivíduos economicamente ativos, e não por pessoas que dependem da Seguridade
Social. O problema maior está justamente no mercado de trabalho, que não gera
empregos na quantidade e, principalmente, na qualidade necessárias para
promover a ascensão social dos menos favorecidos. E isso ocorria antes mesmo da
crise.
Tal descalabro econômico e social do New Labour e
da Terceira Via foi complementado por um submisso alinhamento da política
externa britânica aos interesses dos EUA, que levou a o Reino Unido a
participar da farsa da invasão Iraque, fato que suscitou a abertura de um
inquérito oficial sobre o assunto.
Enfim, a Terceira Via não passou de uma “carapaça
ideológica para o neoliberalismo”, como disse o historiador britânico Perry
Anderson. Foi assim no Reino Unido; e foi assim também nos EUA de Clinton e na
França de Jospin.
Mas essa carapaça ideológica rompeu-se em todos os
lugares, revelando a mesmice do pensamento único e a monotonia trágica das
políticas conservadoras, associadas à crescente desregulamentação do capital
financeiro. As mesmas políticas que provocaram a crise mundial de 2008 e que
contribuem, hoje, para manter a recessão na maior parte do mundo
industrializado.
Assim, nos países desenvolvidos a carapaça
ideológica da Terceira Via atualmente não passa de uma malquista e malcheirosa
carcaça política.
No Brasil, no entanto, há gente que quer
ressuscitar essa carcaça político-ideológica, apresentando-a como uma grande
novidade.
Como no Reino Unido de Blair, a candidatura Marina
pretende conciliar políticas econômicas muito ortodoxas e pró-cíclicas com
grandes avanços sociais. Pretende também conciliar desregulamentação financeira
e econômica e a extinção de mecanismos estatais de estímulo ao crescimento,
como o crédito público em áreas estratégicas, com o desenvolvimento.
Como no Reino Unido de Blair, a candidatura Marina
pretende alinhar nossa política externa aos interesses dos EUA e aliados. Como
lá, doura-se a pílula com um difuso e, por vezes, neomalthusiano ambientalismo.
Como lá, afirma-se que a “nova” proposta está além da esquerda e da direita.
Ao contrário de lá, onde o New Labor promoveu
grandes avanços, no que tange aos direitos individuais, particularmente dos
gays e outras minorias, aqui tais avanços teriam de passar pelo crivo de
sumidades teológicas, como a do Pastor Malafaia.
Bastar ler o plano da candidatura Marina para ver o
quanto ele se baseia numa leitura anacrônica das teses da finada Terceira Via.
Mistura-se essa leitura anacrônica com uma leitura superficial de Manuel
Castells e voilá!, temos a “nova
política”. A milagrosa política que não é política, o partido que não é partido
e as alianças de ocasião que não são “velha política”. A milagrosa política que
vai mudar o sistema de representação apenas com a força dos “homens de bem”
reunidos em redes, sem a necessidade de um reforma política com participação
popular, como propõe a presidenta. Uma milagrosa reforma sem povo, garantida
pelos “homens de bem” e pelos “homens de bens” que controlarão o Banco Central.
No plano não há nenhum a pista sobre o porquê que a
finada Terceira Via, que fracassou miseravelmente nos países desenvolvidos, num
período de bonança econômica, teria sucesso aqui, um país em desenvolvimento,
num período de forte e renitente crise mundial.
Afinal, lá era uma aposta nova numa Terceira Via.
Aqui é somente a carcaça política de uma fracassada Paleovia.
A resposta talvez esteja em devaneios fora de
lugar, e não na razão alicerçada no real conhecimento de um país chamado
Brasil. Isso talvez explique porque a candidatura mude de posição
constantemente sobre tudo.
Quem é muito “sonhático” acaba ficando muito
errático. E sonho anacrônico acaba virando pesadelo.
(*) Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais pela
UnB e assessor parlamentar do Partido dos Trabalhadores
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