Marina é a candidata dos homens de bens
"Nova Política" dos cifrões
Rede Globo deve ao fisco R$ 730 milhões;
Banco Itaú deve ao fisco R$ 18,7 bilhões;
Natura deve ao fisco R$ 628 milhões.
Sonegadores financiam Marina Silva
(cujo nome verdadeiro é Maria Osmarina)
Por: Janio de Freitas
O catatau dado como programa de governo de Marina Silva e do PSB, mas que contraria tudo o que PSB defendeu até hoje, leva a uma originalidade mais do que eleitoral: na disputa pela Presidência, ou há duas Marinas Silvas ou há dois Aécios Neves. As propostas definidoras dos respectivos governos não têm diferença, dando aos dois uma só identidade. O que exigiu dos dois candidatos iguais movimentos: contra as posições refletidas nas críticas anteriores de Marina e contra a representação do avô Tancredo Neves invocada por Aécio.
Ao justificar sua proposta para a Petrobras, assunto da moda, diz Marina: “Temos que sair da Idade do Petróleo. Não é por faltar petróleo, é porque já estamos encontrando outras fontes de energia”. Por isso, o programa de Marina informa que, se eleita, ela fará reduzir a exploração de petróleo do pré-sal.
Reduzir o pré-sal e atingir a Petrobras no coração são a mesma coisa. Sustar o retorno do investimento astronômico feito no pré-sal já seria destrutivo. Há mais, porém. Concessões e contratos impedem a interferência na produção das empresas estrangeiras no pré-sal. Logo, a tal redução recairia toda na Petrobras, com efeito devastador sobre ela e em benefício para as estrangeiras.
Marina Silva demonstra ignorar o que é a Idade do Petróleo, que lhe parece restringir-se à energia. Hoje o petróleo está, e estará cada vez mais, por muito tempo, na liderança das matérias-primas mais usadas no mundo. Os seus derivados estão na indústria dos plásticos que nos inundam a vida, na produção química que vai das tintas aos alimentos (pelos fertilizantes), na indústria farmacêutica e na de cosméticos, na pavimentação, nos tecidos, enfim, parte do homem atual é de petróleo. Apesar de Marina da Silva. Cuja proposta para o petróleo significaria, em última instância, a carência e importação do que o Brasil possui.
A Petrobras é o tema predileto de Aécio Neves nos últimos meses. Não em ataque a possíveis atos e autores de corrupção na empresa, mas à empresa, sem diferenciação. Que seja por distraída simplificação, vá lá. Mas, além do que está implícito na candidatura pelo PSDB, Aécio Neves tem como ideólogo, já anunciado para principal figura do eventual ministerial, Armínio Fraga — consagrado como especialista em aplicações financeiras, privatista absoluto e presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique, ou seja, quando da pretensão de privatizar a Petrobras.
A propósito, no debate pela TV Bandeirantes, Dilma Rousseff citou a tentativa de mudança do nome Petrobras para Petrobrax, no governo Fernando Henrique, e atribuiu-a à conveniência de pronúncia no exterior. Assim foi, de fato, a ridícula explicação dada por Philipe Reichstuhl, então presidente da empresa. Mas quem pronuncia o S até no nome do país, com States, não teme o S de Petrobras. A mudança era uma providência preparatória. Destinava-se a retirar antes de tudo, por seu potencial gerador de reações à desnacionalização, a carga sentimental ou cívica assinalada no sufixo “bras”.
Ainda a propósito de Petrobras, e oportuno também pelo agosto de Getúlio, no vol. “Agosto – 1954″ da trilogia “A Era Vargas”, em edição agora enriquecida pelo jornalista José Augusto Ribeiro, está um episódio tão singelo quanto sugestivo. Incomodado com o uso feroz da TV Tupi por Carlos Lacerda, o general Mozart Dornelles, da Casa Civil da Presidência, foi conversar a respeito com Assis Chateaubriand, dono da emissora. Resposta ouvida pelo general (pai do hoje senador e candidato a vice no Rio, Francisco Dornelles): se Getúlio desistisse da Petrobras, em criação na época, o uso das tevês passaria de Lacerda para quem o presidente indicasse. De lá para cá, os diálogos em torno da Petrobras mudaram; sua finalidade, nem tanto.
De volta aos projetos de governo, Marina e Aécio desejam uma posição brasileira que, por si só, expressa toda uma política exterior. Pretendem o esvaziamento do empenho na consolidação do Mercosul, passando à prática de acordos bilaterais. Como os Estados Unidos há anos pressionam para que seja a política geral da América do Sul e, em especial, a do Brasil.
Em política interna, tudo se define, igualmente para ambos, em dois segmentos que condicionam toda a administração federal e seus efeitos na sociedade. Um, é o Banco Central dito independente; outro, é a prioridade absoluta à inflação mínima (com essa intenção, mas sem o êxito desejado, Armínio Fraga chegou a elevar os juros a 45% em 1999) e contenção de gastos para obter o chamado superavit primário elevado.
É prioridade já conhecida no Brasil.
Pelo visto, Marina e Aécio disputam para ver quem dos dois, se eleito, fará o que o derrotado deseja.
Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=20657
A política maquiada de MarinaPor: Antonio Lassance |
Parte dos eleitores de Marina precisa ser informada de que a pessoa em quem pretendem votar não existe mais. A Marina de hoje não é mais a mesma de tempos atrás |
Dois grupos de eleitores pretendem votar em Marina Silva.
O primeiro grupo acha que ela é uma novidade, alguém completamente diferente e que tem condições pessoais de fazer um bom governo.
Outro grupo quer principalmente tirar o PT do governo, seja lá com quem for, seja lá a que preço. Eram Aécio; agora, são mais Marina.
O primeiro grupo reunia quem votava em Eduardo Campos e um contingente dos que se inclinavam a votar branco ou nulo.
O segundo tem eleitores que abandonaram Aécio porque se sentem mais confortáveis com Marina nesse verdadeiro arrastão anti-Dilma.
O arrastão é enaltecido e financiado principalmente por aqueles que tiveram interesses contrariados e pretendem recuperar seus ganhos no próximo quadriênio:
- Os bancos, que viram a taxa de juros ser reduzida. Eles não se conformam que, mesmo com juros estratosféricos, o país tenha passado a gastar mais em educação, saúde e assistência do que com bancos;
- As empresas de energia, cujo faturamento despencou, e os grandes financiadores da área de energia, como o Banco Santander;
- Os grandes acionistas da Petrobrás e usineiros, que sonham em ver a gasolina sendo vendida a R$5,00 nas bombas dos postos de combustíveis.
Por isso, quando Dilma sobe, as bolsas caem.
Também é preciso registrar que há um setor mesquinho e volumoso de eleitores que se vê ameaçado por pobres e negros, os quais disputam uma vaga na universidade e no mercado de trabalho com um pouco mais de igualdade de condições.
É principalmente por tais fatores que o número de brancos e nulos caiu, que Aécio despencou e que Marina subiu nas intenções de voto.
A "nova" Marina e a Marina que não existe mais
Uma parte dos eleitores de Marina precisa ser informada de que a pessoa em quem eles pretendem votar não existe mais.
A Marina de hoje não é mais a mesma de tempos atrás.
Não é mais a Maria Osmarina - nome verdadeiro e não estilizado da atual Marina.
Não é mais a defensora de seringueiros e de todos os povos da floresta.
Não é mais a militante partidária que não titubeava em se dizer de esquerda.
É outra pessoa.
A declaração da candidata, que comparou o rico dono de uma empresa de cosméticos, a Natura, a Chico Mendes, indignou a todos os que conheceram o sindicalista assassinado em 1988.
O fato rendeu uma nota de repúdio do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri, no Acre.
Para Marina, o dono da Natura seria tão elite quanto um Chico Mendes. Isso mostrou o quanto ela perdeu a noção de muitas das coisas que aprendeu no passado e que deixou por lá mesmo, no passado.
A biografia da candidata agora tem uma página completamente virada em sua trajetória.
Qual o preço que Marina tem se mostrado disposta a pagar para conseguir ser eleita?
Marina promete o que não pode cumprir
Marina não tem programa. Tem uma carta de intenções que não responde a uma questão elementar: como pretende aprovar suas intenções no Congresso, tendo em vista que muitas de suas propostas dependem não da caneta do presidente da República, mas de apoio parlamentar?
A única chance de Marina cumprir o prometido será, em 2015, fundar seu partido e abrir a temporada para o maior troca-troca partidário da história do país, maior até do que o patrocinado por Collor com seu PRN, em 1990.
Marina teria inclusive que esvaziar seu atual partido, o PSB. Ou poderá fazer um trato bastante matreiro: deixaria a Rede como um partido médio, fechado em sua elite, isolado por um cordão sanitário, e faria do PSB a vala comum de todos os oportunistas que quiserem fazer parte do novo governo.
O critério para integrar um eventual governo Marina, repetido pela própria candidata, é ser moderno, competente e "do bem" (por alguma razão, Marina se esquiva de dizer a palavra "honesto").
Provavelmente, seu critério para alguém ser considerado "do bem" seja apenas a Lei da Ficha Limpa. Por esse critério, o governo Dilma também só tem gente do bem.
Se for pelo critério mais abstrato de honestidade, Marina já não ficaria tão tranquila para por sua mão no fogo, como ficou claro com o episódio das denúncias sobre o jatinho usado por ela e Eduardo Campos.
Pelo critério "do bem", Marina pode conseguir não só maioria no Congresso. Pode até sonhar com a unanimidade. Nesta eleição, nenhum ficha suja pode ser eleito, se assim tiver sido declarado pelos tribunais eleitorais.
Teremos, em 2015, 513 deputados e 81 senadores "do bem".
Desses, claro, nem todos serão tão "modernos e competentes". O problema é que os maiores oportunistas são justamente os mais modernos e competentes em fazer o que fazem.
De novo, Marina estaria bem servida de um time de crápulas, todos "do bem", pelos seus critérios genéricos.
De uma forma ou de outra, Marina está prometendo o que não pode cumprir. Ou não fará maioria e não conseguirá governar, ou governará fazendo de tudo, menos a tão propalada "nova política".
Grupo de Marina nada tem de horizontal, de democrático e de transparente
Marina não tem um partido, tem uma "rede". Essa rede nada tem de horizontal, de democrático e de transparente.
É uma associação de peixes graúdos, patrocinadores empresariais da candidata.
Seus seguidores mais sonháticos são os que acham que, futuramente, terão o mesmo espaço e voz que a herdeira do Itaú, o dono da Natura, os representantes da Taurus, os usineiros de Pernambuco, os amigos de Pérsio Arida na Bovespa.
Uma das consequências de Marina não ter um partido e não seguir um modelo partidário é que ela não tem correligionários, nem instâncias, nem grupos que possam rivalizar entre si e expor suas mazelas, como acontece em qualquer partido, por pior que seja.
O que unifica a Rede é que todos os seus integrantes são seguidores de sua grande líder, mentora e guia espiritual.
Desde quando isso é democrático? Desde quando isso é "moderno"?
Marina Silva subiu nas intenções de voto tal qual um balão inflado - grande por por fora, vazio por dentro.
Levada às alturas, é motivo de grande atenção.
O problema é que todo balão, um dia, tem que descer sobre a cabeça dos que hoje se encantam com seu voo.
Aí começa o grande incêndio de algo que enganou a todos com um brilho frágil de papel.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/A-politica-maquiada-de-Marina/31711
O pacote reacionário de
Marina.
Por: Ricardo Amaral
Nada é
mais antigo e reacionário nessa campanha eleitoral do que as propostas de
Marina Silva, do PSB, para “uma nova política”. São seis pontos apresentados no
primeiro capítulo do programa de governo divulgado sexta-feira. Cinco deles
formam um conjunto de retrocessos democráticos e casuísmos. A agenda da direita
está toda lá, do voto distrital ao financiamento privado de campanhas. O sexto
ponto, em contradição, copia propostas do PT.
Marina
“inova” a agenda da direita com a proposta de só realizar eleições a cada cinco
anos, para todos os cargos de uma vez. Nem a ditadura militar calou a voz das
urnas por períodos tão longos. É uma ideia típica de quem tem um conceito
“gerencial” do Estado e do processo democrático. É como dizer: “Não perturbem o
país com eleições de dois em dois anos; isso atrapalha o governo dos bons e dos
eficientes”.
As
propostas reacionárias da “nova política” vêm embrulhadas num texto de chavões
“modernos”: “Estado e Democracia de Alta Intensidade”. Democracia não combina
com adjetivos. Houve um tempo em que o Brasil era uma “democracia relativa”, e
não passava de uma ditadura. Democracia é algo substantivo; ou se pratica ou
não se pratica. No Brasil, custou vidas, lágrimas e luta. Não é pra brincar.
Assim
como o título, o texto é vazado em embromation castiço. Aqui vão
as seis propostas da candidata, traduzidas para o mundo real:
Proposta
1: “Unificação
do calendário geral das eleições, o fim da reeleição e a adoção dos mandatos de
5 anos”.
Tradução: Fazer menos eleições (e não
perturbar o governo dos bons)
Durante 5
anos o eleitorado simplesmente não se pronuncia sobre nada. E de uma só vez
troca o executivo em todos os níveis (pois não há reeleição), ao mesmo tempo em
que elege vereador, deputado estadual, deputado federal e senador. Nem na
ditadura o Brasil passou cinco anos seguidos sem ter eleições em algum nível;
sem ouvir a voz das urnas.
A fórmula
Marina implica necessariamente em alguma prorrogação de mandatos (dos atuais
prefeitos e vereadores, ou dos parlamentares governadores e presidente eleitos
este ano). Só a ditadura fez isso, ao prorrogar por dois anos os mandatos de
prefeitos e vereadores, quando adiou as eleições municipais de 1980.
O fim da
reeleição é hoje uma bandeira do PSDB, que a implantou corrompendo o Congresso
em 1997. O argumento para extingui-la é que o governante cuidaria apenas da
administração, sem desvirtuá-la com o propósito de buscar a reeleição. E o que
o impediria de “desvirtuá-la” para eleger o sucessor? Marketagem reversa
de tucano. Demagogia de sonhático.
Proposta
2: “Fortalecimento
dos mecanismos de transparência nas doações para campanhas eleitorais”.
Tradução:
Financiamento privado de campanhas (inclusive por empresas)
O
documento original da campanha (as “Diretrizes” do PSB) dizia que tais
mecanismos seriam necessários para “baratear as campanhas”. A expressão
grosseira saiu do texto, mas o caráter da proposta não mudou: Marina é contra o
financiamento público de campanhas, uma proposta do PT, e a favor das doações
de empresas.
O
financiamento público de campanha é a proposta mais radical e eficaz para
reduzir a influência do poder econômico no processo eleitoral. Marina rejeita
doações da indústria bélica e de bebidas, mas não vê problema em ser financiada
por um grande banco e por uma indústria de cosméticos com interesses diretos na
administração federal.
Em abril
deste ano, seis ministros do STF (a maioria) votaram favoravelmente à proibição
de doações de empresas. Mesmo com o placar definido, o julgamento foi suspenso
por um pedido de vistas de Gilmar Mendes, ministro indicado pelo PSDB, partido
que é contra a proibição e contra o financiamento público. O vice de Marina,
Beto Albuquerque, também se manifestou em abril contra a proibição.
Ao longo
da última década, o TSE vem apertando os mecanismos de controle das campanhas,
com as prestações de contas antecipadas e registro on-line de doações.
São esses mecanismos que ameaçam o registro da candidatura do PSB, por não ter
declarado à Justiça Eleitoral o uso (Por empréstimo? Doação irregular? Aluguel
no fiado?) do avião que caiu em Santos. Antes de propor “mais transparência”
seria melhor esclarecer esse caso.
Proposta
3: “Novos
critérios na ordem dos eleitos para cargos proporcionais, buscando aproximação
da “Verdade Eleitoral”, conceito segundo o qual os candidatos mais votados são
os eleitos”.
Tradução: Adotar o Voto
Distrital Puro (e despolitizar o Legislativo)
“Verdade
Eleitoral” é o nome falso para voto distrital puro, que o programa de Marina
não tem coragem de mencionar.
O voto
distrital é o único sistema que permite a eleição do candidato mais votado, sem
levar em conta a votação de seu partido ou coligação. É o modelo do “ganhador
leva tudo”, típico da cultura política dos EUA e matriz de seu Congresso
paroquial e reacionário, com representantes altamente vulneráveis ao poder
econômico.
É uma
proposta francamente despolitizadora, defendida no Brasil pelo PSDB e pela
direita. Um retrocesso que rebaixa a disputa política geral ao nível das
questões locais.
O
programa da candidata sequer apresenta o argumento (legítimo) dos que
defendem o voto distrital: este modelo supostamente aproxima
representantes de representados, o que não ocorreria com o voto proporcional,
adotado no Brasil..
Proposta
4: “Inscrição
de candidaturas avulsas aos cargos proporcionais, mediante requisitos a
definir”.
Tradução: Enfraquecer os partidos (e
fortalecer candidatos antipolíticos).
Na versão
original do programa, as “Diretrizes” do PSB, não estava limitada às eleições
proporcionais.
Houve um recuo aí. O argumento a favor da candidatura avulsa é
“quebrar o monopólio dos partidos na representação política”.
Idealmente,
permite a eleição de candidatos apoiados por movimentos e setores
sociais. Na prática, favorece candidatos com alta exposição pública, grande
poder econômico, ou representantes de “causas”, que hoje se elegem dentro
da estrutura partidária. A diferença é que seus votos não contribuiriam mais
para a formação do quociente eleitoral dos partidos, não somariam para eleger
candidatos menos votados.
A
candidatura avulsa existe na maioria dos países, normalmente limitada ao
Legislativo. Não é uma ideia antidemocrática em si, mas é uma resposta enganosa
e despolitizada à questão da representatividade do Legislativo.
Proposta
5: “Redefinir
o tempo de propaganda eleitoral com base em novos critérios, visando a melhorar
a representatividade da sociedade brasileira nos parlamentos”.
Tradução:
Tratar igualmente os desiguais (e valorizar o mercado de TV).
O
critério hoje é: parte do tempo de propaganda eleitoral é distribuída
igualmente entre os partidos com funcionamento na Câmara. Ao tempo mínimo de
cada um acrescenta-se um tempo proporcional ao tamanho das bancadas e
coligações.
Pode-se
rediscutir a proporção entre o tempo mínimo e o tempo proporcional ao
tamanho das bancadas, mas não há critério mais democrático do que o vigente.
Mudar o critério
só pode levar a dois caminhos:
1) Distribuir todo o tempo de
acordo com o tamanho das bancadas.
2) Distribuir o tempo em fatias
iguais, desde o PPL até o PMDB.
Ambos são
menos democráticos que o critério atual, e nenhum deles nos levaria a “melhorar
a representatividade da sociedade brasileira nos parlamentos”.
É
lícito supor que Marina se incline pelo segundo caminho. Nesse caso,
estaria igualando os desiguais, desrespeitando a representatividade conquistada
por cada partido nas urnas. O PT, que é o alvo implícito da proposta, já
foi um partido pequeno, com pouco tempo de TV, da mesma forma que DEM e PSDB
foram grandes um dia. Quem definiu o tamanho das bancadas atuais foi o eleitor.
Na
prática, a proposta beneficiaria as pequenas legendas, tanto as ideológicas
quanto as legendas de aluguel, que teriam seu capital muito valorizado.
Em
Português dos tempos da luta contra a ditadura: é um casuísmo.
Proposta
6: “Permitir
a convocação de plebiscitos e referendos pelo povo e facilitar a iniciativa
popular de leis, mediante a redução de assinaturas necessárias e da
possibilidade de registro das assinaturas eletrônicas.”
Tradução:
Enfeitar o pacote conservador (com propostas copiadas do PT)
Plebiscitos
e referendos são instrumentos históricos da democracia, previstos na
Constituição, porém raramente praticados no Brasil. Hoje, quem tem poder
convocá-los é o Congresso. A ideia de convocá-los por iniciativa popular consta
do programa do PT desde os tempos em que Marina era filiada ao partido. O PT
também propõe incentivar a proposição de leis por iniciativa popular.
Na
campanha de 2010, Marina Silva recorreu ao plebiscito para se livrar de
questões embaraçosas, como a descriminalização do aborto. Cuidado: plebiscito
não é Doril, que se toma pra qualquer dor-de-cabeça. É para decidir sobre
grandes questões nacionais, e não para lavar as mãos do governante que não tem
coragem de assumir suas posições.
Muito
Além do Cidadão Kane
(Beyond
Citizen Kane)
Completo e dublado
Documentário sobre a Rede Globo
Aos 50 anos do golpe militar de 1964 é
necessário revisitarmos o documentário “Muito Além do Cidadão Kane” (Beyond
Citizen Kane, 1993), dirigido por Simon Hartog para o Channel Four da
Inglaterra. A Globo venceu na justiça e o filme foi banido do País, mas acabou
assistido e debatido nos meios universitário e acadêmico. Tornou-se um
documento fundamental para conhecermos o Brasil e a nossa TV. Ficou famoso
internacionalmente pelas suas denúncias sobre as manipulações do telejornalismo
da Globo e o favorecimento econômico da emissora de Roberto Marinho desde o
início do regime militar. Mas o documentário de Hartog diz mais, que só o olhar
de um estrangeiro poderia ver: os detalhes que contribuíram para a Globo formar
a primeira rede de TV do país, capaz de criar um conteúdo tão genérico que
passou por cima da diversidade cultural e regional brasileira. “A estranha
combinação” do entretenimento dominical, a TV em cores e o projeto de
modernidade e integração nacional dos militares e o condicionamento da vinheta
do plim-plim e da linguagem do globês que alterou a identidade idiomática do
brasileiro.
Às
vésperas dos 50 anos do golpe militar de 1964, é oportuno fazermos uma revisita
ao lendário documentário televisivo britânico Muito Além do Cidadão Kane.
Produzido e distribuído pelo canal privado Channel Four em 1993 e dirigido por
Simon Hartog, o documentário foca as relações entre a grande mídia e o poder no
Brasil e detalha a posição monopolista da rede Globo que cresceu à sombra do
regime militar. Analisa a figura do proprietário Roberto Marinho, suas relações
políticas com o Estado (aproximando-o do personagem Charles Foster Kane,
personagem criado por Orson Welles para o filme Cidadão Kane de 1941) e
o poder da emissora em formar e manipular a opinião pública.
A
ideia da produção do documentário surgiu quando Hartog visitou o Brasil nos
anos 80 e ficou impressionado com o império midiático da Globo, Roberto Marinho
e o seu pragmatismo político. Hartog fazia parte de um grupo de cineastas
de esquerda da London Coop. Antes de produzir Muito Além do Cidadão Kane
ele já havia realizado Brazil: Cinema, Sex and the Generals (1985)
sobre o papel político das pornochanchadas na época do regime militar. Para os
amigos, Hartog confidenciava a surpresa pelos brasileiros até então nunca terem
feito um documentário sobre o poder da Globo.
Muito
Além do Cidadão Kane ficou famoso nos meios universitários e
acadêmicos pelas denúncias de manipulação das notícias (o desprezo pelas
“Diretas Já”, a manipulação da edição do debate entre Collor e Lula em 1989
etc.) e por descrever didaticamente as relações simbióticas entre os interesses
econômicos da Rede Globo e os políticos da ditadura militar (1964-1985).
Sem
falar as batalhas judiciais que envolveram o documentário, começando no Reino
Unido que fizeram adiar em um ano o seu lançamento: a Rede Globo contestou a
produção do Channel Four devido ao uso de fragmentos da programação da
emissora. E o banimento no Brasil com apreensões de cópias no MAM/RJ e no Museu
da Imagem e do Som de São Paulo em 1994.
Revisitando
Muito Além do Cidadão Kane percebemos que Simon Hartog quis dizer muito
mais: seu olhar de um estrangeiro originário do Reino Unido onde a maior
emissora (a BBC) possui controle público revela o espanto ao ver um país onde a
maior emissora é privada e que não só cresceu fora do controle do Estado como
também interferiu em momentos cruciais da história política nacional.
Os
fatores determinantes políticos (o acobertamento pelos militares das origens
ilegais da emissora com o acordo Globo/Time-Life em 1967 e a liberalidade com
que foi tratado os negócios da Globo durante o regime militar), econômicos (a
concentração do mercado publicitário na TV) e pessoais (a origem familiar de
Roberto Marinho estava no jornalismo) apenas explicam parcialmente o sucesso de
uma emissora que entrou na adolescência do mercado televisivo brasileiro e
deu-lhe um novo rumo.
As bases imaginárias da construção de uma rede
"Olimpíadas
do Faustão" e "Fantástico":
a "estranha combinação no lazer do domingo. Uma das chaves da construção de uma rede nacional de TV |
Tudo
isso seria insuficiente se a grade de programação da emissora (que o
documentário dá destaque à grade dominical), a sua linguagem e o chamado
“padrão Globo de Qualidade”, não tivessem penetrado tão profundamente no
psiquismo do brasileiro. A grade formada pelo trinômio
Telejornalismo/Novelas/Futebol e a linguagem televisiva que praticamente
recriou a língua portuguesa (“do português ao globês”, como fala o publicitário
Washington Olivetto a certa altura no documentário) foram as verdadeiras bases
imaginárias que ajudaram a consolidar um inédito sistema de comunicação em rede
via satélite.
O
que caiu como uma luva no projeto do regime militar de integração nacional
através da unificação cultural e a construção de um ideal de modernidade onde a
televisão colorida teria um papel-chave.
O
documentário de Hartog inicia mostrando os números do monopólio da Rede Globo:
números de emissoras afiliadas, alcance no território nacional e concentração
das verbas publicitárias. Colocados esses números o documentário inicia a
investigação do por que desses números impressionantes.
E
não é por acaso que dá destaque ao conteúdo da programação dominical com as
“olimpíadas bobocas” do Faustão e o “carro-chefe” do Fantástico em um “domingo
típico com uma estranha combinação de elementos” – o mix de notícias policiais
sobre estupradores, musicais, Disneyworld e matérias sobre as próprias
telenovelas da Globo. Ao mesmo tempo mostra como “a Publicidade era melhor que
o País” ao oferecer nos intervalos publicitários produtos e serviços que a
maioria dos brasileiros não podiam consumir.
Simon
Hartog toca no ponto nevrálgico do sucesso da integração nacional por meio da
construção gigantesca rede de televisão: em pleno regime de exceção, AI-5 e
censura, a popularização da TV dava às pessoas uma impressão de igualdade, uma
aparente socialização integral, sem barreiras e liberdade em pleno espaço
privado da sala de jantar. E o domingo com o show de variedades numa “estranha
combinação” reforçava essa impressão de variedade e liberdade de oferta de
conteúdos.
Maria
Rita Kehl no documentário: a repetição do
mito do "self made man" nas novelas da Globo |
A
TV cumpria a importante função de cimento ideológico do domingo que preparava o
espírito para enfrentar a semana que se iniciava – como até hoje. E a oferta
publicitária de bens e serviços caros só reforçava a ideologia meritocrática
que as telenovelas exibiam em horário nobre (como fala a psicanalista Maria
Rita Kehl no documentário “a repetição do mito do self made man do
princípio do capitalismo”). Os produtos se oferecem para você na tela da TV.
Basta você vencer na vida para comprá-los. Ideologia meritocrática que ocuparia
papel central na mentalidade da nova classe média que surgiria com o chamado
“Milagre Econômico” do início da década de 1970.
Mas
essa ilusão de participação através da TV enfrentava duas grandes dificuldades:
uma de natureza técnica e outra cultural.
O efeito comportamental do “plim-plim”
Como
o documentário destaca, em 1969 a Embratel acabara de inaugurar o sistema de
microondas que permitiria à Globo emitir sinais simultâneos para Rio de
Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Eram as condições técnicas que
permitiram a Globo lançar o Jornal Nacional, o primeiro telejornal brasileiro
em rede. Mas, ao longo do tempo, a emissora enfrentou o problema técnico de
sincronização das afiliadas: todas deveriam sair simultaneamente dos intervalos
publicitários para a exibição do sinal emitido da matriz no Rio de Janeiro.
A
solução técnica foi a famosa vinheta do “plim-plim” para avisar as afiliadas
quando haveriam intervalos, e com isso todas estariam sincronizadas. Em 1971
José Bonifácio, o “Boni”, encomendou a vinheta que foi implantada durante o
Festival Internacional da Canção. Boni queria um som que pudesse ser ouvido a
quadras de distâncias para fazer a família voltar para diante da TV – o
documentário relata que os telespectadores “salivavam” ao ouvir o som do
“plim-plim” criado pelo austríaco Hans Donner.
Mas
ao longo dos anos 1970 publicitários e profissionais de mídia começaram a
perceber que a sonora vinheta, tornada ainda mais marcante com a remodelagem de
Hans Donner em 1975, estava dificultando a recepção dos intervalos
publicitários do horário mais caro da emissora. Simplesmente o sinal
transformou-se num comando comportamental para os espectadores se levantarem,
irem para qualquer cômodo da casa para retornarem depois do novo “plimplim”.
Sob
um regime militar de censura e repressão política, sabendo-se que a TV Globo e
Roberto Marinho tinham ótimas relações com os presidentes generais, tal
percepção ficou restrita a boca pequena ajudando a manter os altos valores de
inserção no horário nobre, vital para o crescimento da rede.
A
vinheta do plim-plim nos anos
1970: efeitos comportamentais |
O
outro fator foi o cultural: a grande extensão territorial do País e diversidade
de hábitos, gostos que faziam parte da história da população regional. Como o
documentário destaca, ovideotape já havia acabado com as programas ao vivo e a
produção local, facilitando a centralização da nova rede. Mas a diversidade
cultural brasileira era uma barreira para estabelecer a fusão da identidade
nacional com o mercado meritocrático publicitário.
O
pesquisador Renato Ortiz dá o exemplo dos estados do tradicionalismo de estados
como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Por exemplo, o interior gaúcho ainda
possuía emissoras locais que se desenvolveram antes da fase da “integração
nacional”, mantendo uma cultura tradicionalista que seria uma óbvia barreira de
uma programação em rede. A solução foi o “toque” local a partir da construção
da figura do “gaúcho”, da “mineiridade” e assim por diante, principalmente por
meio dos personagens de telenovelas. As antigas identidades locais (hoje
inviáveis em face das transformações sociais e do cosmopolitismo da sociedade
de massas) foram como que desmontadas para depois serem reconstruídas por meio
da culinária, arquitetura e “tradição” (no sentido museológico do folclore).
Do português ao “globês”
Mas
o elemento decisivo da “integração nacional” (identidade nacional + mercado
publicitário) foi a criação de uma arquinorma linguística, aquilo que o
publicitário Washington Olivetto declara no documentário de que “o brasileiro
em certo momento deixou de falar o português para falar o ‘globês’”.
Washington
Olivetto: do português ao globês
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A
linguagem da TV Globo acabou criando uma nova identidade idiomática não tanto
por alguma intencionalidade conspiratória, mas pela própria exigência técnica
de um sistema de comunicação em rede cujo conteúdo generalista deveria ser
compreensível a todas as diferenças regionais. Como criar um conteúdo
generalista para um país que na verdade contém diversos países: culturas,
tradições, falas etc.?
Muitos
pesquisadores na área de Fonética e Fonoaudiologia estudam como a TV Globo
criou uma arquinorma televisiva irradiada como, por exemplo, a limitação da
pronúncia de vogais pretônicas e neutralizações de traços opositivos vocálicos
aberto/fechado. Segundo a pesquisadora Regina Silveira , “as bases da pronúncia
da arquinorma televisiva da Globo constroem, para seus telespectadores,
representações mentais sonoras-tipo que ficam armazenadas em suas memórias de
longo prazo, social” (veja SILVEIRA, Regina Célia P. “A
Questão da Identidade Idiomática: a pronúncia da vogais pretônicas na
variedadepadrão do português brasileiro”).
Essa
arquinorma passou a ser aceita pelo seu prestígio não tanto por ser “norma
culta”, mas pela marca do simbolismo da modernidade dentro do projeto
ideológico dos militares no qual a necessidade do monopólio Rede Globo estava
inserido.
Embora
seja uma produção de 1993, Muito Além do Cidadão Kane continua atual:
embora o sistema político tenha se democratizado, o sistema midiático continua
com a mesma estrutura idealizada pelo regime militar. Quando veremos a produção
de Simon Hartog como um documento histórico de uma época que passou?
Ficha Técnica |
Título: Muito Além do Cidadão Kane
(Beyond Citizen Kane)
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Direção: Simon Hartog
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Roteiro:
Simon Hartog
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Elenco: Leonel Brizola, Walter Clark,
Chico Buarque de Hollanda, Dias Gomes, Lula, Washington Olivetto, Armando
Nogueira
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Produção:
Channel Four
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Distribuição: Channel Four
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Ano: 1993
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País: Reino Unido
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