Crônica:
Lembranças em torno de Goulart
Por
Flávio Aguiar
Nas redações da
mídia conservadora ocultaram-se as pesquisas que apontavam a popularidade do
presidente e o apoio às Reformas de Base.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Cronica-Lembrancas-em-torno-de-Goulart/4/29529
PIG 1964 - Flagrante da manipulação em todas as horas
Começo por uma heresia biográfica: para falar de
Goulart, a primeira lembrança que me vem à mente é... Brizola!
Porque não dá para falar de um sem pensar no outro.
Brizola era o grande espantalho da direita
brasileira, das redações da mídia conservadora aos civis e militares golpistas,
antes e depois do golpe.
Quem viveu lembra da campanha: “Cunhado não é
parente, Brizola pra presidente”. A legislação brasileira proibia parente de
presidente de se candidatar, e a discussão girava em torno de isto se referia
apenas aos consanguíneos...
Goulart era visto como um conciliador pela direita.
Era perigoso porque temiam a influência do cunhado sobre ele. Com o passar do
tempo, ser conciliador também ficou perigoso para a direita, que arreganhava os
dentes em toda parte.
Daí tinha um Goulart no meio do caminho, no meio do
caminho tinha um Goulart.
Antes de ser uma pedra no caminho, Goulart foi uma
pedra no sapato da direita, uma pulga na camisola, como dizia o título de
famoso sketch de rádio naquelas épocas.
Primeiro, como Ministro do Trabalho de Getúlio tomou
uma série de medidas em favor dos trabalhadores, como a regulamentação de
aposentadorias, a convocação do Primeiro Congresso da Previdência Social, e
defendeu o aumento do salário mínimo reivindicado pelos sindicatos, de 100%,
contra 42% oferecidos pelas classes patronais. O sonho destas na verdade era o
retorno do estilo do governo Dutra, que durante sua gestão não deu num único
reajuste do mínimo. Jango teve de renunciar ao ministério em fevereiro de 1954,
mas em 1º. de maio Getúlio assinou o decreto concedendo o aumento de 100%, sem
saber ainda que já estava assinando sua Carta Testamento.
Depois Jango elegeu-se por duas vezes
vice-presidente (as votações eram separadas então): primeiro com o conciliador
Juscelino Kubitschek, tendo mais votos do que este. Depois, como vice de Jânio,
tendo concorrido contra este, na chapa encabeçada pelo Marechal Lott.
Quando houve o movimento da Legalidade, em 1961,
Jango optou pela conciliação, aceitando a emenda parlamentarista. Porém três
fatores principais viriam a fazê-lo, de uma pedra no sapato, uma pedra no meio
do caminho da direita. O primeiro foi a rejeição da emenda parlamentarista no plebiscito de 1963 - que permanece sendo
um sonho conservador no Brasil, com a desobrigação do voto e o voto distrital
puro. O segundo foi a crescente “influência” de Brizola, com a radicalização da
situação geral no país. O terceiro foi o comício da Central do Brasil, em 13 de
março, em que o discurso do presidente, preconizando as “Reformas de Base”,
acendeu luzes vermelhas em todos os recantos da direita.
Nas redações da mídia conservadora – então quase
toda a mídia brasileira – com exceção da Última Hora e de mais alguns pasquins
alternativos, como o Brasil Urgente – ocultaram-se as pesquisas que apontavam a
popularidade do presidente e o apoio às Reformas de Base, para não atrapalhar o
embrutecedor e ensurdecedor alarido pela
sua deposição e a mudança do regime. Nos quartéis a conspiração ganhou
foros de defesa da disciplina, coisa que atraiu até militares que em 1961 tinham
defendido a Legalidade, como o General Machado Lopes.
Deposto Jango, sua participação política mais
importante – e surpreendente – foi seu apoio
à Frente Ampla, organizada basicamente por Carlos Lacerda, seu
arqui-inimigo e do getulismo, antes do golpe, com adesão de Juscelino. Por este
caminho, João Goulart voltou a ser uma pedra no sapato da direita,
especialmente de sua linha dura dentro e fora dos quartéis. Sua situação ficou
parecida com a de Pedro II, depois de sua deposição pelo golpe de 15 de
novmebro de 1889. Diante das contradições do novo regime, o símbolo do antigo
passa a ser lembrado com reverência, até mesmo por alguns que apoiaram a sua deposição. Jango tornou-se
assim de fato um perigo para a direita em avanço por toda a América do Sul.
Terá isto sido um motivo suficiente para que sua
morte tenha sido ordenada por alguém, como sugerem as suspeitas ora a serem
examinadas por equipes forenses da Polícia Federal, em hipóteses que vão da
Operação Condor ao delegado Sérgio Fleury? É o que vamos saber nos próximos
capítulos.
Enquanto eles não vêm, lembremos um episódio de
tentativa hoje tacitamente reconhecida para matá-lo. Depois da aceitação da
emenda parlamentarista, quando Jango partiria de Porto Alegre para Brasília,
armou-se contra ele uma “Operação Mosquito”. Esta consistia em interceptar o
avião presidencial por caças da Aeronáutica e derrubá-lo. Algumas articulações, porém, desarticularam a
operação, que chegou a ser ensaiada, conforme depoimento de oficial da arma
recentemente à Comissão da Verdade.
Duas delas não surpreendem. A primeira partiu de
Porto Alegre, articulada pelo então comandante da Base Aérea de Canoas,
tenente-coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro (depois assassinado pelos
golpistas em abril de 64 na mesma base áerea), e consistiu em difundir uma série
de versões evasivas sobre plano de vôo do avião presidencial.
A segunda foi a articulação de sargentos e
suboficiais, além de oficiais legalistas, em várias bases aéreas do país para
impedir que caças levantassem vôo, como houve na de Santa Cruz, no Rio de
Janeiro, do mesmo modo que sargentos, suboficiais e oficiais legalistas tinham
impedido, em 1961, que os caças de Canoas bombardeassem o Palácio Piratini em
Porto Alegre.
A terceira – a surpreendente – foi a ação do então
Chefe da Casa Militar do presidente interino Rainieri Mazzili, que fora Chefe
do Serviço de Informações do Estado
Maior do Exército, pressionando os chefes da conjura a abandonarem a ideia.
Este oficial chamava-se Ernesto Geisel.
Participe
da Enquete (no alto, à direita):
Jornais que apoiaram a ditadura militar de 1964,
emprestando seus carros para que vítimas do regime fossem levados ao DOI-Codi,
onde seriam torturados, devem ser punidos?
Seus donos devem prestar contas à Comissão da
Verdade?
Confira também:
As
manchetes do golpe militar de 1964
Um jornal
a serviço dos EUA - 3
Folha da
Oligarquia - Um jornal a serviço do capital
Relações
da Folha de S. Paulo com o regime militar
http://agenorbevilacquasobrinho.blogspot.com.br/2010/11/relacoes-da-folha-de-s-paulo-e-o-regime.html
A verdade
segundo a Folha.
E você
ainda acredita no Datafolha? Você é inacreditável!
Mercenários
Destucanizar
http://agenorbevilacquasobrinho.blogspot.com.br/2013/08/destucanizar.html
#DrToicinho
entra com recurso no STP-Supremo Tribunal Piguiano para revogar as últimas três
eleições presidenciais e declarar PSDB vitorioso
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